terça-feira, 20 de junho de 2017

A Floresta não dá votos

Fonte: rtp.pt
Não me queria pronunciar muito sobre o assunto da tragédia de Pedrogão Grande - Castanheira de Pêra - Figueiró dos Vinhos porque é um assunto particularmente sensível para mim. Contudo não consegui manter o silêncio.
Todos os anos temos inúmeros incêndios em território nacional. Acompanhamos nos telejornais e na impressa escrita a evolução e rescaldo dos incêndios. Compadecemos com quem perde bens. Choramos a floresta. E depois? Chegamos a outubro e terminou. Não se fala mais do assunto até ao verão seguinte. 
E é aqui que temos de refletir, porque aqui é que se encontra o grande problema. Onde estão as politicas florestais? (e não me refiro às escritas e sim às práticas).

Todos os anos acontece o mesmo. Numa área que sofreu um incêndio, nos 2 a 3 meses seguintes verifica-se a preparação dos terrenos para plantar eucaliptos. Acham, sinceramente, que é de quem aprendeu a lição? Não claro que não é! E onde está a fiscalização? E onde estão os municípios (ou o ICNF) a vigiar? Pois é. Nesta altura a floresta já não é importante. Nessa fase já perderam o interesse na floresta e sim nos negócios paralelos ao incêndios. Na venda da madeira queimada. Pois é... como o Francisco Lousã disse "A floresta não dá votos!".


E não se enganem... o problema não está nas celuloses. As propriedades geridas pelas celuloses não têm incêndios. Estas propriedades encontram-se limpas, com estradas corta-fogo e com áreas com plantações de espécies que travam a progressão do incêndio, além de estarem constantemente vigiadas por fiscais, por isso, aqui também não está o problema.

Vejamos, no incêndio de 2013 na serra do Caramulo, onde também se perderam vidas humanas, passado dois meses tínhamos os proprietários interessados em saber se podiam colocar ou não eucaliptos nos seus terrenos. No incêndio de 1986 na encosta da Serra do Caramulo (com uma geografia muito parecida com a área agora ardida), onde também morreram civis, nasceu um eucaliptal denso encosta acima. No ano passado essa área voltou a arder. E um ano depois o que podemos ver nas encostas??? Plantações de eucaliptos. Acham sinceramente que os nossos governantes, fiscalizadores e proprietários aprendem? 

Quando entre prevenção, vigilância, fiscalização e combate, o combate é que obtém o bolo maior do orçamento. Está tudo dito! Até podemos ter os melhores bombeiros mas se não temos equipas suficientes de sapadores para criar linhas corta-fogos, limpar zonas preocupantes e proteger a floresta, este cenário irá repetir-se ciclicamente. 

Fonte: rtp

Agora morreram mais de 60 pessoas. Será que é suficiente para mudar politicas, comportamentos e mentalidades? Quantos mais teremos de perder para começar a investir na prevenção. Na prevenção adequada está a solução. Politicas florestais, ordenamento florestal, plantação de espécies resistentes a incêndio, formação de equipas preventivas, formação escolar no âmbito da proteção florestal entre outras poderá ajudar na preservação da nossa floresta.




Para terminar... não nos podemos esquecer que os terrenos não são nossos. Nós apenas somos responsáveis por geri-los e deixá-los para as próximas gerações.

Tristemente,


M. M.